22 de março de 2010

Wedding day

No lugar mais quente do mundo, provavelmente às margens da foz dos rios Aqueronte, o Styx e Flegetonte aconteceu uma cerimônia de casamento em que fui fazer um assistência de fotos, e claro, me divertir, pois deus assim quis.
Nos primeiros minutos em que eu e meu amigo fazíamos os testes de luz, ângulo, etc, minha roupa já estava enxovalhada. A Maquiagem já tinha dado de ombros dizendo que lamentava. Os cerimonialistas não cansavam de pedir "um passinho atrás", e tinha um outro colega fotógrafo-who? que fazia os brindes e já nos odiava desde a infância dele. Como não conseguimos, apesar de muito debate, entender a razão do ódio e rejeição, enviamos o caso ao twilight zone, setor vidas passadas, e fomos trabalhar.
Em algum momento entre a entrada da noiva e o "sim", se fez necessário acrescentar um prefixo ao meu exercício: psychofotógrafa assistente tentava manter as pessoas quietas para poder captar um pouco de luz no ambiente, fazer pessoas mais bonitas sem utilizar "técnica souza" de fotos. Psychofotógrafa assistente falhou miseravelmente e dava sinais visíveis de frustração e impaciência, mas torcia intimamente para que todos confundissem o vinco na testa com excesso de profissionalismo ou com gênio criativo em ação empunhando a espada justiceira e o olho tandera, exercitando visão além do alcance .
Aí veio o momento das Lomos.
Fotógrafo e Psychofotógrafa assistente lindamente imaginaram uma página emocionante com a daminha de cachinhos negros, amiguinha de dois anos loira trajada com algo similar a um kilt e um garotinho que parecia um anjo[NOT]...então foi meia hora seguindo a gangue infantil na penumbra, até que comecei a sentir sérias dores no meu braço esquerdo, enjôos, e torci para haver alguém ali que entendesse de primeiros socorros a vítimas de infarto. Não há descanso para os ternos de coração, fato. Rapidamente migrei para a mesa e me concentrei no lindo cacho de bananas verdes e nas cuias de açaí, que tinham um estiloso reflexo de luz. Ambos silenciosos, quietos; entendi perfeitamente porque Cézanne e Van Gogh dedicaram alguns quadros à natureza morta.
De coração mais calmo, fui ter com a assistente para assuntos cartão-computador e quando fui tirar o cartão câmera, ele escorrega da minha mão, ficando preso na frestra entre as tábuas do piso do deck. Sim, eu disse deck. Quando me abaixei para pegar, um brilho das águas que só acontece nesses momentos, quase cegou meus olhos - 560 fotos, quase, eu disse quase, foram cozidas no Flegetonte.- Psychofotógrafa assistente e o fotógrafo continuam amigos até hoje, mas evitam a menção do episódio.
Em busca de um copo de água gelada, observei, para nota futura sobre costumes e ritos do grupo social, que a despeito da temperatura média de 30º, costuma-se tomar licor de amarula, brandy ou frangelico como aperitivo ou digestivo. E para os abstêmios, café...imaginei imediatamente quantos inimigos da família constavam da lista de casamento. Porque ficou a dica.
À medida que a noite avançava e o calor não dava trégua, as roupas de homens e mulheres ganhavam outra tonalidade. De modo que as cores mais fortes se abrandaram e os cinzas, beges, nudes, ficaram escuros. Velório dançante. Não é necessário dizer que a penumbra local fez um bem para as gentes do recinto.
O momento de maior constrangimento, ou não, foi quando íamos fazer o leão da montanha e sair loucamente pela esquerda, com nossas cabeças girando para a direita, e por mera formalidade fomos nos despedir da genitora da noiva. Em um momento de "não entendi os sinais de partida", ela sacode as mãos e nos chama para mais fotos. Houve uma desconsolada troca de olhares entre psychofotógrafa e fotógrafo. E lá fomos nós porque deus assim quis.
Então que a mãe da noiva, é... bem, uma frequentadora de bingo; fuma Dunhill do vermelho e bebe whisky-não-importa-a-procedência, fala muitas palavras de baixo calão, dá cotovelada quando conversa e tem aquela gargalhada pulmonar. E Dona Dercy precisava de fotos, de muitas fotos com outras amigas de similar procedência. Psychofotógrafa assistente ganhou novo gás porque simpatiza com os tipos que frequentam bingo, e queria muito uma avó assim para chamar de sua, e começou a rir de maneira reservada. Fotógrafo não acompanhou a descontração e já estava com canto da boca super repuxado nível derrame. Temi, e não sei em que momento conseguimos sair, tanto que quando chegamos no estacionamento olhávamos para trás sem crer que tínhamos conseguido de verdade. Certo que tivemos o impulso de correr pelo estacionamento até nos sentirmos na segurança do nosso climatizado fotomóvel a 100 km/h. Praise the lord.
Ah sim, tocou isso enquanto saíamos. J-U-R-O.

Nenhum comentário: