29 de novembro de 2005

as Mulheres de Crowe sabem salvar os filmes do Fiasco

Em 2000/2001 assisti "quase famosos" de Cameron Crowe. Uma das cenas que mais me chamou atenção foi aquela em que o pequeno jornalista William Miller chama atenção da Band-Aid Penny Lane sempre às voltas com as agruras de seu romancezinho com o "guitar hero" Russel Hammond da banda Stillwater. O jornalista é bem duro ao dizer que o guitar hero não dá a mínima para ela e apenas ela não percebe. Ele, o guitarrista tinha apostado a sua companhia em uma mesa de jogo e William havia presenciado a cena.

Para uma mulher qualquer esse seria um dos maiores prejuízos que poderia acarretar uma relação que se pretende circunstancial. Ser exposta e ser tratada com displicência. Mas estamos falando de Penny Lane, e mesmo ferida, enxuga as lágrimas e com um sorriso convida o jornalista: "vamos tomar um drink?", sem vestígios de auto-piedade. Gostei muito da Penny Lane naquela cena. Gostei muito do modo como Cameron Crowe controlou aquele movimento de cena e fez Penny Lane parecer tão mais gigante e tão mais rocker do que aquele tiny-winy guitar hero de subúrbio.

Aliás Cameron Crowe é um homem que ama as mulheres. Seus personagens mais interessantes são elas. Elas são as responsáveis por ceder objetos mágicos, os qualificantes que irão ter vital importância para o desenvolvimento de competências para que os personagens masculinos se libertem ou desenvolvam habilidades necessárias para tal. As mulheres possuem o poder do forjar o saber-fazer nos personagens masculinos:

1. A irmã de William Miller antes de deixar a casa para se tornar aeromoça, lhe deixa um pacote com discos e um curioso roteiro sobre como deve escutá-los, o que fará o menino escapar da tirania de uma mãe super-controladora e fazer com ele se torne jornalista free lancer da revista
Rolling Stone, cobrir a turnê da medíocre banda StillWater e ter talvez a melhor aventura de sua vida.

2. Penny Lane é responsável não só por guiar William Miller durante essa aventura, mas também por defendê-lo contra o picaretismo da banda e da omissão de Russel Hammond em não reconhecer a matéria que William escreveu, dando o endereço de William Miller ao invés do seu aproveitando uma das infindáveis ocasiões em que Russel tenta retomar o relacionamento; o que oportuniza Russel perceber dentro do quarto de William a sua própria covardia.

3. Claire, em Tudo acontece em Elizabeth Town é a responsável pelo "guia de viagens" mais
exótico que já se viu; ela roteiriza a aventura de Drew Baylor, fazendo com que ele finalmente perceba que derrota e morte também são aventuras.
Muito bem era aqui que eu gostaria de chegar. No novo (já não tanto, pois já saiu de cartaz) de Crowe.

Cameron Crowe segura a mão na primeira parte do filme. A prerrogativa do fiasco na vida de Drew é deixá-lo à beira de um precipício: depois de 8 longos anos dedicado a um projeto de design de tênis, o projeto fracassa, levando junto não só sua carreira e reputação como também a namorada padrão. Não resta muito a Drew Baylor a não ser sentir o desprazer do insucesso, pena de si mesmo e as portas batidas na sua cara. Como se isso não bastasse, ele fracassa também na vida familiar: nesses 8 anos que passou dedicado ao projeto, ele pouco mantém contato com a família e a notícia da morte de seu pai (quase um desconhecido para ele) coincide com o afamado fiasco.

A viagem para Elizabethtown (local onde o pai morrera) é rápida. E é no avião que Drew obtém o seu objeto mágico que irá lhe fazer abandonar a idéia de suicídio, conhecendo a mulher que elaborará cuidadosamente se roteiro de volta à vida. Nesta grande viagem ele reencontra não só a refeência de seu pai, mas a verdadeira garota dos sonhos, sua fada, por assim dizer. Em um lugar onde nada acontece, no distante reino de Elizabeth Town, ele percebe que é da circunstancialidade da vida aparentar ser irrelevante quando não é e vice-versa. É salvo. Magicamente salvo por uma mulher.

Os filmes de Crowe são contos de fada pop. As mulheres são as que fornecem as varinhas de condão. E por isso são filmes de entretenimento de relações. Mas é inegável, enxugando a pieguice de algumas coisas, que o artifício do objeto mágico adquirido pelo LOSER funciona como uma boa estruturação para um roteiro que aqui e ali parece estar mal direcionado. Sua paixão pela trilha sonora é intensa e arrisco dizer que ele dirige um filme como quem produz um disco: antes mesmo das cenas existirem, as músicas parecem já terem sido escolhidas.
Mas as mulheres de Crowe...são admiráveis.

Um comentário:

renmero disse...

penny lane foi a primeira grande garota que conheci.