Em 2000/2001 assisti "quase famosos" de Cameron Crowe. Uma das cenas que mais me chamou atenção foi aquela em que o pequeno jornalista William Miller chama atenção da Band-Aid Penny Lane sempre às voltas com as agruras de seu romancezinho com o "guitar hero" Russel Hammond da banda Stillwater. O jornalista é bem duro ao dizer que o guitar hero não dá a mínima para ela e apenas ela não percebe. Ele, o guitarrista tinha apostado a sua companhia em uma mesa de jogo e William havia presenciado a cena.
Para uma mulher qualquer esse seria um dos maiores prejuízos que poderia acarretar uma relação que se pretende circunstancial. Ser exposta e ser tratada com displicência. Mas estamos falando de Penny Lane, e mesmo ferida, enxuga as lágrimas e com um sorriso convida o jornalista: "vamos tomar um drink?", sem vestígios de auto-piedade. Gostei muito da Penny Lane naquela cena. Gostei muito do modo como Cameron Crowe controlou aquele movimento de cena e fez Penny Lane parecer tão mais gigante e tão mais rocker do que aquele tiny-winy guitar hero de subúrbio.
Aliás Cameron Crowe é um homem que ama as mulheres. Seus personagens mais interessantes são elas. Elas são as responsáveis por ceder objetos mágicos, os qualificantes que irão ter vital importância para o desenvolvimento de competências para que os personagens masculinos se libertem ou desenvolvam habilidades necessárias para tal. As mulheres possuem o poder do forjar o saber-fazer nos personagens masculinos:
1. A irmã de William Miller antes de deixar a casa para se tornar aeromoça, lhe deixa um pacote com discos e um curioso roteiro sobre como deve escutá-los, o que fará o menino escapar da tirania de uma mãe super-controladora e fazer com ele se torne jornalista free lancer da revista
Rolling Stone, cobrir a turnê da medíocre banda StillWater e ter talvez a melhor aventura de sua vida.
2. Penny Lane é responsável não só por guiar William Miller durante essa aventura, mas também por defendê-lo contra o picaretismo da banda e da omissão de Russel Hammond em não reconhecer a matéria que William escreveu, dando o endereço de William Miller ao invés do seu aproveitando uma das infindáveis ocasiões em que Russel tenta retomar o relacionamento; o que oportuniza Russel perceber dentro do quarto de William a sua própria covardia.
3. Claire, em Tudo acontece em Elizabeth Town é a responsável pelo "guia de viagens" mais
exótico que já se viu; ela roteiriza a aventura de Drew Baylor, fazendo com que ele finalmente perceba que derrota e morte também são aventuras.
Muito bem era aqui que eu gostaria de chegar. No novo (já não tanto, pois já saiu de cartaz) de Crowe.
Cameron Crowe segura a mão na primeira parte do filme. A prerrogativa do fiasco na vida de Drew é deixá-lo à beira de um precipício: depois de 8 longos anos dedicado a um projeto de design de tênis, o projeto fracassa, levando junto não só sua carreira e reputação como também a namorada padrão. Não resta muito a Drew Baylor a não ser sentir o desprazer do insucesso, pena de si mesmo e as portas batidas na sua cara. Como se isso não bastasse, ele fracassa também na vida familiar: nesses 8 anos que passou dedicado ao projeto, ele pouco mantém contato com a família e a notícia da morte de seu pai (quase um desconhecido para ele) coincide com o afamado fiasco.
A viagem para Elizabethtown (local onde o pai morrera) é rápida. E é no avião que Drew obtém o seu objeto mágico que irá lhe fazer abandonar a idéia de suicídio, conhecendo a mulher que elaborará cuidadosamente se roteiro de volta à vida. Nesta grande viagem ele reencontra não só a refeência de seu pai, mas a verdadeira garota dos sonhos, sua fada, por assim dizer. Em um lugar onde nada acontece, no distante reino de Elizabeth Town, ele percebe que é da circunstancialidade da vida aparentar ser irrelevante quando não é e vice-versa. É salvo. Magicamente salvo por uma mulher.
Os filmes de Crowe são contos de fada pop. As mulheres são as que fornecem as varinhas de condão. E por isso são filmes de entretenimento de relações. Mas é inegável, enxugando a pieguice de algumas coisas, que o artifício do objeto mágico adquirido pelo LOSER funciona como uma boa estruturação para um roteiro que aqui e ali parece estar mal direcionado. Sua paixão pela trilha sonora é intensa e arrisco dizer que ele dirige um filme como quem produz um disco: antes mesmo das cenas existirem, as músicas parecem já terem sido escolhidas.
Mas as mulheres de Crowe...são admiráveis.
29 de novembro de 2005
as Mulheres de Crowe sabem salvar os filmes do Fiasco
Por Michelle Robert às 14:58
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Um comentário:
penny lane foi a primeira grande garota que conheci.
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