21 de janeiro de 2006
Fim de ano, Aniversário de Belém, Começo de Ano...(guardados)
Não escrevo posts de final de ano, de início de ano, de aniversário, de começo de namoro, de fim de namoro, mas ando amarga com esse buraco em que moro, por isso vou falar de maneira bastante clara sobre o que se passa por aqui.
Aqui é onde o bom gosto só aparece quando quer morrer; dos que poderiam ser exceção até mesmo aqueles que são em muito o recheio da mediocridade local, todos acabam sempre por chafurdar em um mar de sentimentos falidos em relação a si, em relação ao que fazem, em relação aos outros; as vontades se esgotam pois o terrreno é alcalino, a terra é árida, dura, o ventre é seco. O provincianismo se mistura de maneira imperceptível (afinal todos nos esforçamos em contar mentiras bonitas para nos convencermos que somos diferentes, especiais; alguns não mentem tão bem assim, então acreditam que a mudança geográfica é suficiente para fugir de tudo isso) à insalubre domesticidade da produção da cultura local: fanzine, projetos de revistas devotados e submissos ao que consideram como potencialmente vanguarda(natimortas), jornais, agendas culturais, portais, até o simplório horóscopo que sempre traduz o espírito de quem o escreve...tudo finório....não existe vigor nem nas coisas mais simples.
A data de fabricação se repete ad infnitum e acabamos por perceber que prazo de validade não existe. A não ser aquele que imaginamos , que idealizamos, que acalentamos como provável, naquela esperança vã de que "não é possível que eu esteja no Hades, amaldiçoada a sentir sede e não poder beber, mesmo diante de um rio". A questão é que essa é a verdade . Reedição do top dos piores momentos, para mim, passa sempre por esse efeito-imagem: Delay, Delay, Delay.
Isso foi 2005. Uma ressaca danada e aquela impressão certa, realista e saudável de seguir sem olhar para os lados do que acontece na morna cidade morena. è aí que reside o truque de roteiro necessário e inesperado que muda os destinos dos personagens, as ações e faz dos finais coisas dignas de serem lembradas.
A grande sorte começa a se movimentar quando simplesmente abandonamos aquilo que nos aprisiona; sem televisão, sem jornal local, sem agenda cultural, sem saber nem mesmo do lugar mais próximo para me embriagar vez ou outra, produzo mais, me assento mais, me desligo "daquele bailinho que a gente ia mesmo era pra se abraçar... - e também- de quando a orquestra tocava besame mucho...eu todo cheiroso à Lancaster e você à Chanel"... Então, pouco a pouco, começam a aparecer no globo terrestre durante os próximos dias, meses, anos, os pontinhos coloridos...post-its indicando lugares, idéias, papéis, letras, palavras, imagens... e aquela sensação de aventura que provoca um frio no estômago volta com tudo, proporcional ao despreendimento: sem aluguel, sem contas, sem filhos, com a minha juventude pela frente... só preciso de um sidecar, pois tenho um companheiro de viagem. Esse ao lado serve a contento... 2006 parece um bom número. Vou com calma, pois a tarefa que tenho exige a demora, a lentidão sábia; tenho o que escrever, tenho o que ler, tenho meu tempo de volta, tenho a minha paciência reestabelecida; contato visual com o retrovisor (suficiente para saber quilometragem rodada e distância segura dos velhos costumes) ...e que tudo fique como está por essas paragens, que as pessoas continuem transando três, quatro cubas e peguem suas lambretas no fim do baile e... prossigam voando em volta da lâmpada.
Por Michelle Robert às 16:18
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