Wong Kar-Wai me surpreende novamente. Saindo do cinema na sessão das 20:30 acompanhada do uma amiga e do noivones, ainda sobre o impacto da belíssima fotografia desse diretor que filma pelas frestas, minha amiga bem que me lembrou de como Wong Kar-Wai persegue aquela atmosfera noir, cheia de referências da Nouvelle Vague, de deslocamentos no tempo/espaço quase sempre subjetivo. Até a insistência em mostrar o ano exato dos acontecimentos é um jogo maravilhoso de experiência. Os personagens que posam na luz como se estivessem languidamente estendidos sobre a melancolia de uma valsa. E a valsa, toca os nossos ouvidos até hoje. Wong Kar-Wai não é um cineasta que hesita em explorar todos os recurso e sonoridades possíveis; ainda mais quando se trata de música, ocidente e oriente se misturam, em elegia a um amor lembrado, aquele que talvez não chegue na hora certa, por que o amor tem que ser como um trem, não pode chegar adiantado. Nem atrasado. E o amor, infeliz ou não, pouco importa, é um ritmo que percorre o filme: Uma atmosfera "golden years", até quem sabe um bolero.
Todas as sombras e as luzes, a narrativa em 1ª pessoa, até mesmo a conduta blasé do Chow Mo Wan conduz à conclusão "a vida é um bolero, em que as texturas dos vestidos maravilhosos escorregam como uma lembrança"...são os amores perdidos em que os andróides são réplicas perfeitas de uma lembrança e possuem retardos a ponto de sentirem como humanos.
O convite "venha comigo?" é realmente apreendido ou detona apenas um reflexo que faz a andróide permanecer parada diante do janela, vendo o train de grande vitesse ir para um lugar qualquer em 2046 onde nada muda, em que as lembranças serão sempre as mesmas? Ela própria de lá não sairá.
Das páginas de ficção que Chow Mo Wan escrevera ("2047"), a andróide era apenas um personagem-idéia. A que verdadeiramente inspirou Chow Mo (ao mesmo tempo narrador homodiegético e heterodiegético quando está falando de dentro da ficção "2047") trata-se da filha do dono da pensão em que Chow Mo morava, impedida pelo próprio pai de namorar Tak, um Japonês. E ela permanece dia após dia falando frases em japonês como se de repente fosse decidir fugir para o Japão e finalmente romper com os laços paternos e optar pelo namorado. Ou talvez, esperando algo que ela realmente não tem idéia do que seja. Esperando como tantos, e permanecendo no salvo-conduto das lembranças.
Da transição de 1963 para um cenário futurístico dos trilhos de trem, do personagem japonês que realiza a viagem em busca dessa espécie de paraíso de extermínio da história "onde nada muda", quantas referências... Um figurino transmorfo que se adapta tanto ao futuro quanto às luzes quentes do presente de Chong que escreve em 1968.
Essa não é a tônica do amor? Encostar a cabeça na janela e observar o trem se afastar para um literário e desconhecido 2046, em que finalmente as coisas não mudam, ir em busca de uma lembrança? E ela, a replicante, o que será além da lembrança da moça que amava, mas não sabia exatamente por quê não deveria deixar Hong Kong para fazer sua parada final no trem 2046, talvez em Tóquio... O livro que Chow escreve, "2047", é a reescrita de suas lembranças, de sua vivência no quarto 2046, lugar em que seus relacionamentos aconteceram, e que as frestas, os vidros partidos lhe deram o filtro necessário para olhar o mundo. Um livro sem final feliz.
Destaque para a belíssima Zyiy Zhang no papel de Bai Ling, que parte no final em um trem qualquer com destino a Cingapura.
Do mesmo diretor: Amor à Flor da Pele ( in the Mood Of Love-2001)
Por ocasião do lançamento de " In the mood of love" Wong Kar -Wai fala: "Eu sempre quis chamar este filme de 'Segredos' ou alguma coisa sobre segredos, e Cannes falou, 'Não, já existem muitos filmes com segredos'. Então tínhamos que achar um título. Nós estávamos escutando uma música do Bryan Ferry, chamada "In the Mood of Love', então nós o chamamos 'In the Mood of Love', por que não? Realmente o clima do filme é o que coloca essas pessoas juntas."
Os segredos de amor aconteceram em 2004. E ouça Nat king Cole.
Todas as sombras e as luzes, a narrativa em 1ª pessoa, até mesmo a conduta blasé do Chow Mo Wan conduz à conclusão "a vida é um bolero, em que as texturas dos vestidos maravilhosos escorregam como uma lembrança"...são os amores perdidos em que os andróides são réplicas perfeitas de uma lembrança e possuem retardos a ponto de sentirem como humanos.
O convite "venha comigo?" é realmente apreendido ou detona apenas um reflexo que faz a andróide permanecer parada diante do janela, vendo o train de grande vitesse ir para um lugar qualquer em 2046 onde nada muda, em que as lembranças serão sempre as mesmas? Ela própria de lá não sairá.
Das páginas de ficção que Chow Mo Wan escrevera ("2047"), a andróide era apenas um personagem-idéia. A que verdadeiramente inspirou Chow Mo (ao mesmo tempo narrador homodiegético e heterodiegético quando está falando de dentro da ficção "2047") trata-se da filha do dono da pensão em que Chow Mo morava, impedida pelo próprio pai de namorar Tak, um Japonês. E ela permanece dia após dia falando frases em japonês como se de repente fosse decidir fugir para o Japão e finalmente romper com os laços paternos e optar pelo namorado. Ou talvez, esperando algo que ela realmente não tem idéia do que seja. Esperando como tantos, e permanecendo no salvo-conduto das lembranças.
Da transição de 1963 para um cenário futurístico dos trilhos de trem, do personagem japonês que realiza a viagem em busca dessa espécie de paraíso de extermínio da história "onde nada muda", quantas referências... Um figurino transmorfo que se adapta tanto ao futuro quanto às luzes quentes do presente de Chong que escreve em 1968.
Essa não é a tônica do amor? Encostar a cabeça na janela e observar o trem se afastar para um literário e desconhecido 2046, em que finalmente as coisas não mudam, ir em busca de uma lembrança? E ela, a replicante, o que será além da lembrança da moça que amava, mas não sabia exatamente por quê não deveria deixar Hong Kong para fazer sua parada final no trem 2046, talvez em Tóquio... O livro que Chow escreve, "2047", é a reescrita de suas lembranças, de sua vivência no quarto 2046, lugar em que seus relacionamentos aconteceram, e que as frestas, os vidros partidos lhe deram o filtro necessário para olhar o mundo. Um livro sem final feliz.
Destaque para a belíssima Zyiy Zhang no papel de Bai Ling, que parte no final em um trem qualquer com destino a Cingapura.
Do mesmo diretor: Amor à Flor da Pele ( in the Mood Of Love-2001)
Por ocasião do lançamento de " In the mood of love" Wong Kar -Wai fala: "Eu sempre quis chamar este filme de 'Segredos' ou alguma coisa sobre segredos, e Cannes falou, 'Não, já existem muitos filmes com segredos'. Então tínhamos que achar um título. Nós estávamos escutando uma música do Bryan Ferry, chamada "In the Mood of Love', então nós o chamamos 'In the Mood of Love', por que não? Realmente o clima do filme é o que coloca essas pessoas juntas."
Os segredos de amor aconteceram em 2004. E ouça Nat king Cole.
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