18 de abril de 2006

Som e Fúria


Faulkner era um escroto. Não gostava de dar entrevistas, não gostava de falar sobre si mesmo. Sua visão de trabalho era fisiológica e por isso, para ele era inconcebível pensar que se pode passar 8 hs no nosso regime de semi-escravidão que adoece não só a vida como também o o pensar. Segundo ele foi uma das coisas mais cruéis que o homem já inventou.
Faulkner reescreveu 5 vezes "Som e fúria", e a cada versão um personagem da trama era a primeira pessoa a narrar... e mesmo no momento da publicação refletiu que se pudesse o reescreveria novamente. E talvez esse livro nunca terminasse, no meio de sua reescrita infinita.
Nada exótico, para ele escritor que é escritor, precisa apenas de papel e caneta, inspiração então, é coisa que ele nunca viu. O que ele viu foi uma montanha de labor, alguns livros para ler, alguns contatos com contemporâneos, mas de verdade os livros, aqueles que permaneciam, eram alguns clássicos, Cervantes por exemplo. Segundo ele essa era a literatura que lia, lia diariamente, como quem conversa, assim se sentia mais confortável, nem era preciso ler todo o livro: uma página, um diálogo, já era suficiente para que sentisse a presença de um velho amigo.
Trabalhou em hollywood e gostou bastante de Humphrey Bogart: cara macho, de poucas palavras, rosto talhado na pedra, poucos amigos na agenda. A experiência, no entanto, não foi frutífera, pois escritor que é escritor, não escreve para comprar piscina.
E o que faz com que tenha essa contundente percepção de seu trabalho, esse controle sobre o que o ronda é simplesmente o fato de que nada pertecente ao homem lhe é estranho, tanto o cristianismo(como projeto de civilização) quanto a violência e a barbárie são ferramentas que se bem utilizadas revelam o homem. Cara intrincado.

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