6 de março de 2009

ARTE DA FUGA (FALSO ERUDITISMO DA VIDA)

Você trabalha todos os dias. Todos os dias você se levanta e cumpre uma rotina espartana. Acorda cedo e dorme tarde, roubando alguns minutos de lazer dos dias da semana. Você assiste uns três filmes por noite por que não consegue dormir. Havia um tempo em que isso tudo seria até mesmo impronunciável, mas você está longe de casa, você não conhece ninguém, você não tem tempo para os amigos. Você lembra com saudade, mas sem remorso, do que deixou para trás, você escreve linhas tortas com recados pequenos para seus avós, primos e irmãos, dá um telefonema mensal para os pais. Aos finais de semana você caminha sozinha, entra em algum bar toma uma cerveja, duas, três, joga uma partida de sinuca. Você tem conhecidos. Em algum lugar de algum armário na sua cidade, você escondeu algo. Você não lembra mais, esparsos são os sorrisos que lhe vem a memória, o contato já escapou no esquecimento, mas sente faltar algo. Você caminha como se tivesse esquecido a chave, e você confere o bolso: lá está ela. Nada falta.

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