12 de junho de 2006

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Junho é um mês estranho, um aglomerado de datas festivas desconhecidas, que marca chegada dos dias de sol, dos dias mornos...Isso se agrava mais quando é ano de copa do mundo. A cidade vira uma brasilândia e só se consegue ouvir, ver e falar disso.
falando em datas festivas, existe um monte de dia de santos que jamais consegui descobrir quem são ou o que fizeram; mas há também os santos feriados. E é claro tem dia dos namorados. Lembrei, de repente, alguns filmes que conseguiram materializar a faceta amorosa em tudo que ela tem de melhor e de pior. Eles falam melhor por mim. Em geral os finais não são felizes, para que nós não nos esqueçamos que o amor é mais frio que a morte (sim, existe também a banda "Love is colder than death", que emprestou o título de um filme de Fassbinder). Mas enquanto ele vive, e faz com que exista mais força em nosso corpo, faz valer a pena a celebração, e nada melhor que imagens que narram tudo isso de maneira brilhante.

Liberdade é azul: Acordar em um hospital e descobrir que o marido e a filha morreram em um acidente de carro... A partir deste acontecimento, Julie (Juliette Binoche), tenta se desfazer de tudo aquilo que a territorializa. Na sua busca em apagar as lembranças, a dor da perda da filha e do marido, alguns fatos por ela desconhecidos vêm à tona, e é o disparo para que o despreendimento com o que é e o que foi seja finalmente realizado: infinito azul. Destaque para a cena em que um desconhecido que assistiu o acidente, repete a última frase do marido( o final de uma piada que contava um pouco antes do acidente acontecer)

Brilho Eterno: Clementine, depois de uma discussão com Joel resolve apagá-lo para sempre de sua vida. E para isso utiliza dos serviços da "Lacuna Inc." A necessária busca de apagar em definitivo qualquer lembrança de maneira eficiente faz com que se brinque com procedimentos científicos para curar os azedumes do coração, tudo isso feito pela mão segura de Gondry e Kaufman. Destaque para as cenas em que Joel se arrepende de tentar apagar Clementine de suas lembranças e luta para escondê-la nas profundezas de sua memória. Ou a cena do corredor, logo depois que escutam os depoimentos de um para o outro antes do procedimento, em que percebem que algo os impede de seguir em frente.

Mulholland Drive: Betty Elms-Diane Selwyn, Rita-Camilla Rhodes. Essa história de amor é construída dentro de um universo real/onírico. Diane selwyn chega a hollywood com típicos sonhos de sucesso e dinheiro, lá conhece Camilla Rhodes por quem se apaixona. Camilla, no entanto, acaba se casando com um diretor de filmes. É justamente na festa de noivado de Camilla que Diane sabe que a perdeu para sempre, assim tanto o sonho de amor quanto o da carreira fracassam. Em uma história paralela, a desmemoriada Rita se esconde na casa da atriz promissora Betty Elms, sua única aliada e cúmplice em desvendar quem está querendo matá-la. Rita parece se lembrar de apenas um nome "Diane Selwyn". Finalmente, as duas encontram Diane Selwyn, morta há vários dias, provavelmente por suicídio.
Neste momento parte onírica e real se encontram no "club silenzio" em que Betty e Rita choram ao som de "llorando" em playback. Betty não quer virar-se, não quer soltar a mão de sua amada Rita. Quando decide olhar para o lado, o que resta em seu lugar é apenas a chave azul. Sinal que seria dado pelo assassino, na realidade do presente, quando a morte de Camilla estivesse consumada. Betty e Rita, não passam de uma tentativa de narrar a realidade através de um sonho, de uma virtualidade que se mescla ao delírio, ao desespero, ao arrependimento e também à necessidade de um final feliz. "No Hay B
anda!", chora Rebekah Del Rio.

"Les amants du Pont Neuf": Michèle é uma pintora talentosa, provavelmente no auge de sua produção, quando descobre que possui uma rara doença que a deixará gradualmente cega. Decide então abandonar sua vida confortável, seu marido e seu apartamento e passa a viver na rua, pintando em metrôs e praças. É assim que conhece Alex, no verão de 89. Michèle passa a viver com Alex na Pont Neuf, fechada para reformas. Poucos diálogos enfatizam bastante a solidão real dos personagens, Alex e Michèle se encontram em um interstício da vida dos dois, em que as chances reais de sua paixão estão limitadas ao fato de que ambos necessitam um do outro. Ele será os olhos de Michèle, ela será sua companheira. Quando há uma chance de resgate de Michèle pela família e por um cirurgião de olhos que espalha cartazes com sua foto pelos metrôs de Paris, Alex se encarrega de tentar acabar com qualquer chance de retorno de Michèle à sua vida anterior, queimando os cartazes. Aliás, uma cena belíssima. Sonoridade e Imagem na medida furiosa.

Enfim, não são filmes com finais felizes, são filmes sobre o amor na sua versão não-glamourosa (sob o imperativo da harmonia) mas nem por isso menos intensa.

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