Meninas Valentes!

Então, falando de coisas importantes para o funcionamento da indústria vital...existem aqueles dias em que o mp3 está um mausoléu, só se vê gente vagando pelos corredores com cara de angústia anunciando que "Bela Lugosi está morto", "que o amor vai nos separar rasgando", Que o "William não sabe praticamente nada", que "algumas garotas, são maiores que as outras, assim como algumas mães são maiores que as mães de outras garotas", que "isto aqui é uma casa feliz, nós somos felizes aqui...estou olhando através da janela", "Tábua Ouija, vc poderia me ajudar, eu tenho que dizer 'olá' para um velho amigo"; (eu escuto isso praticamente todos os dias há uns 12 anos e não canso, mas em outro post eu falo melhor sobre isso.) Fato é que tentando sair um pouco do corredor, sem exatamente mudar de casa, é que comecei a fazer aquela busca que sempre traz surpresas maravilhosas.Vamos lá:


Electrelane


Aqui a capa de Power Out, disco das garotas Emma Gaze (bateria), Ros Murray (baixo), Mia Clarke (guitarra), Verity Susman (teclado, vocal, guitarra, saxophone),uma das minhas bandas atuais preferidas. Lançado pela Too Pure (Mclusky; Stereolab) e o primeiro em que as garotas decidiram colocar os belos vocais para funcionar. Seus discos anteriores dispensavam na maioria das vezes a presença das vozes e a experimentação eletrônica se fazia mais presente. Agora, alguma vozes suaves, tímidos lamentos, se juntam aos solos de guitarras que constituem impressões ritmícas delicadas e nostálgicas, explodindo na acelaração dos solos, da 2ª guitarra e na bateria aqui:

It's not that I can't go on without you
Got a lot of things to do
I'm busy, busy all the time
Still I can't stop thinking about you
"Birds"

Detalhe as moças são poliglotas: cantam em espanhol "Oh Sombra!" um soneto de Juan Boscán, poeta espanhol; francês "Gone under the sea", e inglês. Os 3 discos oficialmente lançados, diferem entre si. Rock It to The Moon (2001), é post-rock; Power Out (2004), é rock n'roll; Axes (2005) é jazzístico, cheio de experimentações. Vale a pena conferir todos, a coisa é fina.
Está tudo aqui.



CocoRosie

As irmãs Sierra e Bianca Cassidy, formam a banda CocoRosie e elaboraram La maison de mon rêve em 2004, dentro de um apartamento em Paris. Produção quase caseira, mas muita criatividade na mistura de blues-roots ("Jesus loves me"), folk, eletrônico e Hip-hop ("By your Side"), sem é claro optar especificamente por nenhum deles (pois ocasionaria uma grande perda, creio, na singularidade da dupla). Em algumas músicas, os sintetizadores brincam com as nossas memórias sonoras até nos apanharmos elaborando imagens com imãs de geladeiras que imitam galinhas cacarejando, estouros de rolha de champagne que culminam em uma chuva, gargalhadas de bonecas à pilha, bonecos ventrílocos, delays de sons bizarros que poderiam ser trilha sonora de filmes de terror, loops, acompanhado do charme de vozes roucas que lembram e muito Billie Holliday.

A maior parte das letras são irônicas, como "By Your Side" relatando uma frenética abnegação da paixão feminina cantada em voz doce, quase submissa (esse 'quase' fica por conta da sutileza entre letra e arranjo vocal):

"All I wanted was to be your housewife
I'll iron your clothes
I'll shine your shoes
I'll make your bed
And cook your food"
("By Your side")

A irreverência e o cinismo em "Miss Madonna":

"Oh miss madonna where you goin' after work
In that preacher's car
You know o won't tell nobody
That you've been smoking cigars
I won't tell nobody
Tell nobody
That you've been smoking cigars "

Sem abrir mão da beleza de um sussurro, quase suspiro, na idílica "Good Friday":

"I once fell in love with you
Just because the sky turned from gray
Into blue"

Se pudesse descrever o que é a música das moças, traduziria em "canções de ninar para ursos polares dormirem". Hoje é meu batimento cardíaco.
Da Touch & Go (selo de bandas como Calexico, Dirty Tree,Tv On The Radio, Yeah Yeah Yeahs e outras pérolas) para os fortes de ouvido e de coração.