29 de janeiro de 2009

cocaine song...

Todos na mesa à espera, as ruas vazias a comida está posta. É 1976 e eu não tinha nascido. Na rua algumas crianças teimosas ainda brincam. É silêncio, o musgo da parede da casa do meu avô cresce, o quintal é farto de arbustos e flores. Um cenário retrô e idílico, só para ele, para os filhos e para os netos.

Ele sentava à cabeceira da mesa como os grandes patriarcas. Não sei se delirava ser Napoleão, Dom João..não sabia ele, com certeza, que com ele ia também o patriarcado. Os agregados, dependentes e aderentes em fuga adoidada pelos becos, como se fugissem de dívida antiga cobrada à porta, sumiram assim que ele morreu. A avó que sobreviveu a ele, perdida ainda nas pequenas coisas da casa, pulso nenhum para patrimônio, economia, ou números a não ser que a conta sempre aberta da taberna valesse, foi vendo as coisas serem vendidas. Só não viveu suficiente para ver a casa do patriarca cair; se ainda fosse viva, ali era o golpe de misericórdia. A despeito da morte do meu avô, aqueles, que por ousadia ou por falta de recurso, nasceram, talvez tenham superado a expectativa do velho se ele ainda estivesse aí para ver. Não sei se para bem ou para mal, os sobreviventes todos se encaminharam, mas a família mingua. Ainda bem? Uma família de um século, cansada. Ainda em tempos outros, com os valores adormecidos no sono de como mundo deveria ser (não como ele é)… quando nasci o que podia querer? Minha maior satisfação talvez sela cantada assim: “I’m so glad to get my own, so glad that i can see, my life is a natural high, The man can’t put no thing on me“…nem ideologias, amigos, nem afetos. Quem manda sou eu. Os netos nascem, ele morre. Essa é a lógica. Essa foi a maior herança que o velho deixou. Que as coisas tenham o dom de suceder, sempre.

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